O Projeto

A Cena Queer

A Cena Queer compreende um conjunto de apresentações artísticas que se estruturam em torno do tema da normatividade. Os artistas envolvidos no projeto mesclam, à linguagem da dança, ferramentas provenientes de outras áreas, tais como as artes visuais, a moda, o happening e a música, a fim de compor um discurso que faz uso do próprio  corpo como objeto de expressão estética e política.
Desde 2012 a Cena Queer  vem reunindo artistas de teatro, dança, DJs, VJs, fotógrafos e estudiosos da teoria queer em eventos performáticos de caráter coletivo, voltados para a discussão de questões ligadas à temáticas queer. Em julho de 2012 Eberth Vinícius, Adriana Prates,  Simone Gonçalves, Michelle Mattiuzzi, Ricardo Alvarenga, Jacson Costa, Junior Oliveira e Sóter Xavier realizaram a primeira edição do projeto. A partir de então outros artistas se incorporaram à cena,  trazendo performances, intervenções urbanas, flahs mobs e desfilando suas personagens pelas ruas da cidade, atraindo assim o foco para aqueles corpos estranhos e desafiadores.
A maioria das performances que integraram a Cena Queer aborda questões relacionadas aos temas gênero e sexualidade, e apesar de extremamente diversos em suas estratégias de expressão e criação, todos os performers se encontram em um lugar comum: a recusa à normatividade, crítica esta que é característica primeira da teoria queer. Surgido nos Estados Unidos do final da década de 1980, esse conjunto de pensamentos trata da imbricação existente entre gênero, cultura e sociedade e funciona como um termo guarda-chuva para aqueles que recusam a normatividade e o binarismo no que se refere às questões de gênero e sexualidade. Diferente das teorias LGBT, a teoria queer está definitivamente apartada do mainstream, assumindo-se como marginal e buscando positivar aquilo que poderia ser ofensivo.
A palavra queer - que pode ser traduzida superficialmente como ‘estranho’, ‘ridículo’ ou ‘excêntrico’, originalmente era utilizada para agredir aqueles que não estavam em sintonia com os padrões vigentes de gênero e sexualidade. A partir de um determinado momento, o termo foi apropriado pelos agredidos e resignificado, configurando uma crítica acerca dos processos sociais de normatização. Os trabalhos teóricos que se pautam por esta corrente de estudos geralmente buscam evidenciar a artificialidade das definições de gênero, a dimensão performática deste e a descontinuidade entre corpo/gênero/sexualidade/desejo, apontando assim para a dimensão política que encerram.
A Cena Queer soteropolitana, assim como a banda Solange - uma das nossas maiores inspirações - está aberta para incorporar trabalhos a que abordem a normatividade a partir de outros temas, tais como gordura, envelhecimento, etnicidade, masculinidade, feminilidade, homossexualidade e consumo, entre outros.

 HISTÓRICO DO PROJETO
A Cena Queer teve origem no início de 2012. Surgiu a partir das inquietações/reflexões do bailarino clássico Eberth Vinicius, as quais dividia com Adriana Prates, sobre questões relacionadas à tríade gênero/sexualidade/identidade, que culminaram na mobilização de artistas que possuíam trabalhos relacionados aos temas mencionados para realizar discussões e mostras. Na época, Eberth havia tido contato com a teoria queer e estava começando a idealizar XL, uma releitura do balé clássico Giselle onde, em vez de buscar a conformação aos rígidos modelos impostos pela tradição, propunha uma reflexão sobre vários padrões que constrangem a existência humana, através da subversão de elementos que vão desde o cenário, passando pela música, chegando até a interpretação da protagonista: na versão de Eberth, um homem é quem encarnava a heroína e sofria procurando seu príncipe. Através desses deslocamentos, circulavam vários questionamentos sobre o balé, a identidade, os papéis de gênero e outros aspectos da normatividade.
Eberth buscou o diálogo com outros artistas para organizar a primeira Cena Queer, ocorrida no mês de julho de 2012 na Escola de Dança da Fundação Cultural do Estado da Bahia. A Cena Queer se materializou em seguida em um espaço histórico de sociabilidade homossexual de Salvador, o Beco dos Artistas, às vésperas da Parada LGBTT. Motivada pelo desejo de dialogar com este contexto específico de tempo e espaço, a escolha da data foi feita de forma a ampliar o questionamento da normatividade existente também no universo homossexual, especialmente após a ascensão de um ideal identitário pautado pelo consumo. Nesta segunda oportunidade, a Cena Queer contou também com um show de Paulo Belzebitchy, artista atuante no cenário cultural queer mundial e atualmente radicado na Alemanha.
A terceira, quarta e quinta materializações da Cena Queer aconteceram também em setembro de 2012, a partir de um convite para integrar a programação do mês da diversidade no Teatro Gamboa, espaço fundado nos anos 70, definido em seu site como “um local democrático e compromissado com o novo”, que se constitui como um espaço para “artistas que trabalham com uma estética inovadora”.
Em 2013, a Cena Queer se tornou residente do Teatro Vila Velha, onde promoveu, no Cabaré dos Novos, duas edições do espetáculo “Cabaret Drag King”, composto por performances que abordam o tema da masculinidade. Em junho, XL foi contemplado com o prêmio Vivadança, cumprindo temporada de duas semanas no Teatro do ICBA. No mesmo ano, a Cena Queer foi vendedora dos Editais CCPI / Secult e FGM / Prefeitura Municipal de SSA e tem apresentações agendadas no verão 2014 em diversos locais da cidade. 
 Confira a programação em eventos.